Canga: o simples pano que carrega uma grande história
Ai que delícia o verão! Entra o calor e saem dos armários os maiôs, as sungas, os biquinis e as cangas. Esta última peça, assim como a camiseta, é um dos itens mais queridos nas piscinas e praias por ser versátil e funcional. Com estampas que se renovam a cada estação, o simples pano colorido carrega…
Ai que delícia o verão! Entra o calor e saem dos armários os maiôs, as sungas, os biquinis e as cangas. Esta última peça, assim como a camiseta, é um dos itens mais queridos nas piscinas e praias por ser versátil e funcional.
Com estampas que se renovam a cada estação, o simples pano colorido carrega uma grande história por trás. Vem com a gente!
Canga: origem
As cangas possuem uma história que se inicia por volta dos séculos 9 e 10 na África Oriental. Trazidas da Índia e da Arábia por comerciantes portugueses, os tecidos eram utilizados como moeda de troca para riquezas naturais, em locais como Zanzibar e Mombaça.
Por outro lado, pesquisas afirmam que a peça ficou conhecida no final do século 19, em Moçambique, como vestuário tradicional entre as mulheres suaíli (grupo étnico africano). O pano de algodão cru, branco e liso, usado por escravos nos EUA, servia ao mesmo propósito na costa da África Oriental, antes da abolição da escravatura (1897).
Com a libertação, para afirmar sua identidade, as ex-escravas passaram a decorar os tecidos. Inicialmente, estampavam pequenas manchas pretas parecidas com a plumagem da galinha d’angola – que não por acaso eram chamadas de “kanga” no kiswahili, idioma oficial do grupo, inspirando o nome da peça.
Canga, Kanga ou Khanga significa galinha de angola em Kiswahili.
O meio é a mensagem
À medida que as mulheres de herança escrava procuravam aceder à identidade suaíli, as cangas passaram a ser coloridas e através de desenhos e provérbios, a manifestar suas opiniões e tabus de forma aceitável.
Frases como as traduzidas abaixo eram colocadas na borda do tecido como uma mensagem:
Majivuno hayafai: A ganância nunca é benéfica;
Mkipendana mambo huwa sawa: Está tudo bem se vocês se amam;
Japo sipati tamaa sikati: Mesmo não tendo nada, não desisti do desejo de conseguir o que quero;
Mulheres na celebração nacional pela herança de Zanzibar com suas cangas. Foto de Rose Ong’oa, 2007, via astate.edu
Na década de 1930, um comerciante queniano de tecidos, atento, soube da preocupação destas mulheres que buscavam estabelecer uma posição segura na sociedade.
Também como uma oportunidade de mercado, começou a divulgar outros tipos de mensagens como mafumbo (significados ambíguos) e misemo (ditados populares), inspirados no folclore, enigmas, canções infantis, citações do Alcorão, cultura popular, bem como em letras de músicas de estilo Taarab, tornando os tecidos mais atraentes para o público- alvo.
Imagem por Dar es Salaam (Tanzânia), vendedor de cangas, 2011. O texto em suaíli: Usijaze masusu kwa mambo yasokusuhu significa “Não se envolva em assuntos que não lhe dizem respeito”, via Wikipedia;Ditados, aforismos e slogans que favoreciam a liberdade começaram a ser estrategicamente colocados na borda do tecido. “Mesmo estando tristes, sejam todos bem-vindos”. Via: Thee Towah Group 2020;
As cangas começaram a se espalhar ainda mais pelo mundo. Se tornaram populares e alcançaram uma pluralidade de usos e estilos que parece não se esgotar.
Na sociedade suaíli de hoje, as mulheres ainda encontram voz na kanga para desafiar os ideais sociais, religiosos e políticos – literalmente vestindo o que não pode ser falado.
Anos 90: as cangas invadem as praias no Brasil
No Brasil, anos 90, a moda de praia se tornou cult e passou a ocupar um espaço ainda maior. Roupas e acessórios viraram tendência, assim como trajes de banho, a saída de praia, as sacolas coloridas, os chinelos, óculos, chapéus, e claro, as cangas.
Os modelos se multiplicaram e a evolução tecnológica possibilitou o surgimento de tecidos cada vez mais resistentes. Logo, a peça foi parar até mesmo nas paredes de casa como decoração.
Por isso, criamos sempre artes inéditas para você levar a ideia com você pelo mundo. Coisa linda demais!
Canga ou bandeira? Você decide!
Na praia ou no parque
Como toalha de praia: para se secar após nadar ou tomar sol;
Como saída de praia: amarre a canga em volta da cintura como uma saia;
Como vestido de um ombro: para cobrir o biquíni;
Como lenço ou xale: cubra a cabeça e os ombros para se proteger do sol ;
Como tapete de praia: estenda na areia para sentar ou deitar;
No parque: encoste embaixo de uma árvore, estenda a canga naquela sombrinha, faça um piquenique ou leia seu livro favorito;
Já pensou pegar uma prainha e deitar em cima de um desenho lindo desses? Canga por @cccapim para El Cabriton – Dias melhores VerãoLevar arte para todos os lugares! Canga Guria por @maricastelllo
Pra decorar
Na decoração, a peça quebra a formalidade, além de destacar a arte e deixar aquele cantinho com outra cara. Ficam lindas em quartos, salas, perto de plantas, cactos e suculentas.
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